Ambiente experimental para publicação de material excedente do projeto Incubus e incubologia. Com pequenos contos relatívos a Incubus, Sucubus e qualquer outra tranqueira sem noção ou relação com os temas supra-citados...

Bem vindo?


Pressupostos deste blog sobre os leitores:
1) Os leitores são pessoas adultas, que já fizeram suas escolhas básicas na vida, conhecem-se o bastante para saber do que gostam e no que acreditam. Portanto os leitores comportam-se de maneira apropriada a adultos bem resolvidos e bem educados.
2) Os leitores são inteligentes, sabem que ficção é por definição algo que não existe e que para divertir-se com ela é necessário firmar um pacto com o autor, de que acreditará na ficção, pelo menos enquanto estiver lendo.
3) Os leitores são educados, sabem falar sobre assuntos delicados sem ofender ninguém e sem perder a elegância. Também sabem argumentar e expor seus pensamentos e sentimentos por escrito de maneira clara, correta e precisa quando sentem necessidade de comunicar-se uns com os outros.
4) Os leitores gostam de ler e terão tanto prazer na leitura quanto o autor na escrita. O autor deste, gosta muito de escrever, para acompanha-lo o leitor deve gostar de ler.

Se você não se enquadra em algum destes itens, não perca a maravilhosa chance de investir seu tempo em alguma atividade mais adequada, como por exemplo, rezar para que um dia você possa ser uma pessoa adulta também.

Pressupostos deste blog sobre a realidade:
1) Existe um Universo imanifesto, repleto de possibilidades, tudo o que hoje existe, existiu primeiro nele, até que em algum momento manifestou-se em algum mundo.
2) Existe um mundo espiritual. Este mundo contem coisas boas e ruins.
3) Existe um mundo físico. Este mundo também contem coisas boas e ruins.
4) Existe um mundo do meio, formando uma ponte entre o espiritual e o físico. Acessamos este mundo através de nosso pensamento. Nossa mente é o instrumento que possibilita navegar em diversos mundos, entre eles, o nosso mundo interior, o mundo mental compartilhado e o mundo do meio.

Neste blog, apresentarei em forma de ficção, um pouco do que vivi e presenciei no mundo do meio. Contarei as histórias dos personagens que conheci enquanto navegava através da imaginação por todos os mundos, manifestos ou não. Se você leu e compreendeu os pressupostos acima, lhe estendo o convite que até hoje só ofereci para meus melhores amigos: “Deixe-me levar sua mente para passear”.

Um grande e confortável abraço

=NuNuNO== Griesbach
( Que não sabe onde arranjará tempo de postar, porém, tem um plano. )

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Encontro Casual

Enquanto os novos textos estão terminando de dourar no fogo, sigo descogelando algumas velharias que estavam no freezer... :-)

Encontro Casual


Nossa! A quanto tempo? O que você está fazendo aqui? Que coincidência te encontrar justo aqui né?
Você sabe que eu sou uma menina do interior, nasci e cresci com você em uma cidade pequena, e ainda lembro o nome e sobrenome de cada um dos mil habitantes e de seus animais de estimação. A vida no interior não é de fato ruim, na maior parte do tempo existe paz e união entre as pessoas, pode-se deixar a casa inteira aberta e sair para uma viagem de um mês, quando se volta encontra-se a casa do mesmo jeito que se deixou, e as vezes até algum amigo desocupado se ocupa de varrer a casa alguns dias antes de você voltar.
Um dos aspectos chatos, é que não é possível guardar segredos por muito tempo, a não ser coisas que se fez absolutamente sozinha. Na nossa antiga cidade jornais são desnecessários, a igreja e a mercearia são os centros de informação popular, que transmitem em minutos para a cidade inteira se você está doente, se beijou alguém ou se fez qualquer coisa que pareça interessante para as velhas fofoqueiras desocupadas.
Nunca se sabe quando seu passado volta a tona, nunca se sabe quando seu sorriso será mal interpretado, e principalmente, nunca se sabe tudo o que as pessoas sabem sobre você. Em nossa cidade eu me achava feia, os rapazes me evitavam, e eu nunca soube por quê, talvez, tenha sido por que um dia, aos treze anos, beijei Valdecir em uma festinha durante a tarde, Valdecir foi um dos raros rapazes da nossa cidade que acabou preso em uma cadeia, então talvez os outros rapazes tenham medo, acreditando que quando ele sair de lá, daqui a doze anos, irá me procurar...
A minha surpresa quando cheguei na cidade grande, é que eu não era feia, os rapazes me perseguiam, me olhavam, me chamavam e elogiavam, e nem mesmo suspeitavam que algum dia em minha vida eu dei um rápido beijinho em um presidiário. Me assustei com a quantidade enorme de pessoas diferentes que viviam juntas na cidade, e até hoje não entendo por que os meus vizinhos nunca me desejaram um mero bom dia, a impressão que eu tenho é que quando existem muitas pessoas ocupadas em suas próprias vidas vivendo juntas, ninguém conhece ninguém, ninguém sabe nada sobre ninguém. Dizem que uma pessoa da cidade grande conhece em média trezentas pessoas, das quais sabe o nome e sobrenome de apenas cinqüenta. É um absurdo se compararmos com uma cidade pequena, mas, não sei se acredito nisso que dizem, acho que oitenta por cento das estatísticas são inventadas.
Logo na primeira semana eu percebi que as pessoas viviam com o medo de estarem sozinhas nas ruas, ou em suas casas, e mesmo com medo continuam sozinhas, expostas a um monte de criminosos que por algum motivo inexplicável nunca são encontrados pela policia.
A policia da cidade grande é engraçada, dizem que existe um policial para cada cem pessoas, e isto significa que existem muitos policiais nesta cidade, mas mesmo com tanta policia nunca se conseguiu a paz que uma delegado e dois policias trazem para nossa cidade pequena. Um dia eu estava saindo do trabalho cansada, e fui cercada por três bandidões, acho que eles não sabiam que eu tinha dinheiro, ou simplesmente não se importavam, eles queriam mesmo era me ver pelada, tiraram minha roupa e rasgaram uma mini-blusa que eu adorava usar, e quando viram um carro de policia saíram correndo. A policia também gostou de me ver pelada, e ficaram me fazendo perguntas ao invés de perseguir os três rapazes. Depois de muito tempo, me levaram para a delegacia, como se a criminosa fosse eu, e eu tive que tentar lembrar de como eram os três, mas é claro que eu não fiquei reparando nesses detalhes, só lembro que o chefe deles era bonitinho e usava uma jaqueta de couro. Eu quase aproveitei que estava na delegacia para perguntar do Valdecir, mas, na verdade eu não tinha tanto tempo para esperá-lo sair da prisão.
Ta bom, eu confesso, beijei o Valdecir por que eu realmente gostava dele, eu gosto de garotos com esse jeito malvado, bruto. Não sei por quê. Não sei se o beijaria outra vez, mas, não sei por que não faria isso.
Estou fazendo faculdade de direito a noite, e pagando a faculdade com o dinheiro do meu trabalho durante a madrugada. Eu durmo o dia inteiro e nenhum dos habitantes da cidade sabe disso.
Eu lembro que na minha cidade pequena, eu beijei um garoto, apenas uma vez, e todo mundo ficou sabendo, e se este garoto não tivesse sido preso, eu provavelmente estaria casada com ele. Na cidade grande eu faço sexo varias vezes por noite, com homens diferentes que a maior parte das vezes nem mesmo me dizem seus nomes verdadeiros, e ninguém fica sabendo disso. Se eu engravidar nem eu mesma saberei de quem é o filho, acho que a vida na cidade esta mexendo um pouco comigo.
Eu trabalho nessa casa noturna desde que cheguei aqui, onde posso dançar, beber, fumar, e transar o quanto eu quiser. Algumas meninas da casa são desesperadas, quando entra qualquer um, feio ou bonito, pulam sobre ele como moscas no mel. Eu não, eu sou seletiva, só vou pra cama com rapazes que façam meu estilo, gosto de ver os malvadões ficando indefesos e dóceis aos meus cuidados. Hoje em dia, os malvadões de jaqueta de couro entram na casa, e me chamam pelo nome, o nome verdadeiro, nunca senti necessidade de mentir meu nome. Eu me sinto como se fosse namorada de todos eles, e alguns deles sentem isso por mim também, eu consigo perceber. E minha sorte é que eu não sou realmente namorada de ninguém que frequenta minha boate.
Quando comecei a ter clientes apaixonados fixos, eu morria de medo que um encontrasse o outro e resolvessem brigar por minha causa, mas, isto nunca aconteceu. Uma vez, dois se encontraram e ficaram amigos, ali, na minha frente. E depois fomos os três para o quarto. Acho que desde que eu vim morar na cidade grande, tenho tido a oportunidade de fazer tudo o que sempre quis fazer, e o melhor, sem que ninguém comente nada no dia seguinte.
Eu nunca imaginei que poderia te encontrar aqui, na cidade, no meu trabalho, e estou feliz de ter te contado as coisas que eu vivi e aprendi aqui. Passei a minha vida inteira com mil pessoas sabendo com exatidão de detalhes tudo o que eu estou pensando e fazendo, agora estou os últimos dois anos passando pelos mesmos lugares, e ninguém nem ao menos sabe meu nome. Estou feliz que você tenha aceitado o convite de vir até a minha casa, neste horário não é seguro andar pela rua, já tive tantos problemas que até comprei esta arma que levo na bolsa.
É uma pena que você já esteja voltando para nossa cidadezinha, eu pretendo voltar para lá algum dia, depois de me formar, e eu não queria que as pessoas de lá, soubessem de algumas coisas que eu fiz aqui na cidade. Você entende né? Eu passei anos da minha vida me controlando para evitar cair na boca das velhas fofoqueiras. Calma, eu já vou guardar minha arma.
Só que eu não posso permitir que você volte para lá, e conte tudo o que eu passei para me tornar doutora, você foi um ótimo amigo durante toda minha infância, mas, foi você que me viu beijando o Valdecir, eu pedi pra você guardar segredo, ele também era seu amigo na época, e também te pediu sigilo. O que você fez? Contou pra cidade inteira. Quando Valdecir te pegou de jeito, você foi chorar para o seu papai delegado e inventou tantas histórias que ele esta na prisão até hoje.
Essa é a esquina mais escura que eu conheço. Fique de joelhos e peça desculpas. O que? Você gostava de mim? Gostou a vida inteira? Que bom que você teve coragem para me dizer isso antes de eu me mudar para a cidade grande.

Um súbito estampido foi ouvido pelo quarteirão, porém, tiros são ruídos noturnos comuns na cidade, então ninguém se importou.
A principal vantagem de viver em uma cidade grande, é que você pode acordar no dia seguinte, e ter a certeza de que ninguém nunca fica sabendo das coisas que você fez na noite anterior.
Ainda volto pra minha cidadezinha natal. Terei dinheiro e uma profissão e, ninguém nunca mais será preso por algo que não fez.


=NuNuNO==
( Precisando de um pouco de paz, sossego e anonimato )

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